Cultura Activa

Entrevistas a várias personalidades ligadas à cultura

Friday, January 29, 2010

Hélio Morais


Hélio Morais é baterista dos Linda Martini, If Lucy Fell e Os Paus. Além destas três bandas, Hélio é ainda a&r/produtor/agente, na Enchufada (editora de Buraka Som Sistema).
Venha conhecer mais sobre o multifacetado músico/engenheiro e agente.

1- Olá Hélio. Para iniciar acho pertinente perguntar-lhe: como nasceu o seu gosto pela música?
Bom...acho que o primeiro contacto que tive com a música foi premonitório do que viria a fazer anos mais tarde. A primeira banda que me lembro de ouvir, foi Europe. Estávamos no início dos 80 e fiquei apaixonado pelo video deles, em especial, pela parte em que focavam o pedal do bombo. É uma imagem bastante nítida na minha cabeça. O meu pai tinha o vinil duma compilação com o "The Final Countdown" e eu estava sempre a puxar a agulha para trás, para a ouvir novamente. Depois disso, não tenho quaisquer outras recordações, pelo menos até 89/90, quando descobri o Mc Hammer e saltei de repente para Metallica e Censurados. O Lars Ulrich acabou por ser o grande culpado pelo facto de tocar hoje bateria, quando decidi aprender o instrumento numa igreja protestante de Massamá.

2-Qual é, concretamente, a sua profissão?
Sou músico a full time e tenho um part-time de 8 horas diárias como a&r/produtor/agente, na Enchufada (editora de Buraka Som Sistema).
Desde 2008 que faço agenciamento de bandas (sendo que já o fazia antes, para as minhas próprias bandas), primeiro na Magicbox e depois na Lisboagência, onde tive a oportunidade de trabalhar com bandas como Oquestrada, Rádio Macau, Doismileoito, etc.
Sinto-me feliz por ter o previlégio de trabalhar no meio que gosto, que é a música.
Sou também um ex-futuro Engenheiro Electrotécnico.

3- Fale-me um pouco da sua infância, momentos mais marcantes, pessoas mais marcantes, o que o levou a tocar bateria..
Passei grande parte da minha infância a jogar à bola, em Massamá.
O meu pai trabalhava por turnos e eu vivia sozinho com ele, por isso estava sempre na rua.
Sempre tive muitos amigos dignos desse nome, por isso seria injusto destacar um. Mas uma pessoa que sempre me apoiou imenso durante todo esse processo, foi a minha avó. É a pessoa mais querida do Mundo.
Momento, destaco talvez o dia em que um tipo se chegou ao pé de mim e peguntou que instrumento gostaria de aprender a tocar, como forma de evangelização (foi na igreja protestante que aprendi a tocar bateria). Hoje em dia sou agnóstico, mas a verdade é que o facto de a dada altura da minha vida ter tido fé em Deus, fez com que adicionasse à minha vida algumas linhas que considero chave para o meu crescimento.

4- O que é que na vida lhe dá mais gozo fazer?
Tocar e fazer música.
Já fiz muita coisa na vida. Já fui jogador de rugby, já fiz graffity, já trabalhei nos correios, em empresas de estudos de mercado, já estudei cursos que odeio, etc. Uma coisa é certa, nada bate a sensação de fazer e tocar música. Andar na estrada desgasta, mas faz-te aprender a ser mais tolerante, conviver com culturas diferentes, enfim...faz-te ver a ti mesmo de uma forma mais clara.
Estar em estúdio, também é óptimo. É óptimo conseguir passar para os intrumentos coisas que tenho dentro de mim. É catártico.
Além disto, adoro estar com as pessoas de que gosto muito.

5- Como qualifica a cultura em Portugal actualmente? E o que deve mudar face a exemplos estrangeiros?
Acho que a nível cultural, estamos muito bem servidos. A nível institucional, talvez faltem ainda algumas infraestruturas e apoios, bem como mudar-se algumas mentalidades. Mas do ponto vista criativo, não acho que precisemos de olhar para exemplos exteriores. Não me sinto minimamente aculturado vivendo em Lisboa, que é a minha realidade. Não posso falar pelas outras cidades, porque não vivo lá.
Semanalmente há uma vasta oferta de concertos ditos "grandes", concertos "underground", exposições mais "mainstream" e outras mais "faz tu mesmo", filmes a estrear, peças de teatro, etc.

6- A que se deve a evolução na música nacional que se tem verificado nos últimos anos? Acha que há mercado para essa música? Qual é o problema da música nacional? Porque é que não consegue satisfazer o mercado interno?
A evolução deve-se a meu ver, a dois factores seguidos. O primeiro, prende-se com o facto de termos um fácil e rápido acesso ao que se vai fazendo um pouco por todo o Mundo. O segundo, com o facto de hoje em dia já não nos metermos no papel de coitadinhos e acharmos que não somos capazes de fazer igual ou melhor. Podemos até não ser capazes, pontualmente, mas pelo menos acreditamos que somos e isso faz-nos ser exigentes e evoluir.
Se há mercado para esta música? A realidade é que somos um país pequeno que não consome música compulsivamente. Mas acho que vai havendo espaço para todos. Às vezes talvez não haja o espaço desejado por cada indivíduo, mas uns melhor e outros pior, todos vão conseguindo o seu cantinho.
Quanto à última pergunta, conheço muita gente que discordaria dela e que consome maioritariamente música portuguesa. Eu pessoalmente, consumo muito do que vem de fora, mas porque não acredito em bandeiras. A música é Universal, por isso não ligo se vem deste ou daquele país. Ligo simplesmente à sonoridade.

7- No geral, além da música, que áreas culturais é que destaca como as que se têm desenvolvido nos últimos anos? Quais as suas preferências nessas áreas?
O Design, a Publicidade e o cinema.
Existe uma série de criativos portugueses a vingarem lá fora, estando a trabalhar em Portugal ou não.
É comum dar-se de caras com artigos sobre um qualquer designer português que ganhou um prémio lá fora ou sobre um criativo que foi distinguido por um anúncio publicitário.
Ainda há não muito tempo, tivemos também o João Salaviza a ser premiado pela sua curta, na área do cinema.
É como dizia anteriormente. A nível criativo, acho que estamos muito bem servidos.

8- O projecto "Linda Martini" é um dos mais ambiciosos e com maior sucesso em Portugal nos últimos anos. Como vê esse sucesso e como geres esse tempo com os "If Lucy Fell" e os "Paus"?
O sucesso é sempre relativo. Aquilo que para mim pode ser um sucesso, para outra pessoa pode não ser.
Até agora não nos podemos queixar de falta de público e pessoas que nos apoiem. É claro que atingidos os objectivos a que te propôes a dada altura, tens que estabelecer novos, para não estagnares.
Quanto à minha gestão de tempo entre os três projectos, por vezes é complicado conseguir fazê-la bem. Há alturas em que roubo tempo a uma banda, outras em que roubo à minha vida pessoal, há alturas em que penso que sou louco, há alturas em que penso que não conseguiria não o fazer, enfim...Com mais ou menos tempo, as coisas vão acontecendo.

9- De onde vem a sua mais directa inspiração? Tem algum ídolo?
Terei que responder da música que ouço. Se bem que as relações com as pessoas, tal como tudo quilo com que tenho contacto no dia-a-dia me influenciam bastante.
Não sou fã da palavra "ídolo". Há bastantes artistas que admiro, seja na música ou fora dela, mas não os considero ídolos.
Mas muito sinceramente, acho que uma das pessoas que mais admiro, é o meu irmão Rafael. É uma pessoa com uma força enorme.
Dentro do Mundo artístico, "Botch" foi provavelmente a banda que mais me influenciou e "José Saramago" o meu escritor fetiche.