Cultura Activa

Entrevistas a várias personalidades ligadas à cultura

Monday, June 28, 2010

Pedro Górgia





Pedro Górgia é um actor que nos tem prendido ao ecrã em todos os seus trabalhos ao longo dos últimos anos. Também no Teatro, Pedro é um excelente profissional, tendo trabalhado com Luigi Ottoni em Saragoça e participado em inúmeras peças de Teatro de enorme importância nacional.
Assim sendo, o Cultura Activa decidiu abordar este grande actor, por toda a sua obra e empenho. Venham ver!



1- De onde surgiu o gosto pela representação? Entre televisão e teatro, qual prefere e porquê?
O gosto surgiu aos poucos, conforme fui caminhando na profissão, uma vez que acabei por entrar neste meio sem a intenção de me tornar num actor profissional. Quanto a preferências, na verdade não tenho. Teatro, televisão, cinema, rádio, matraquilhos - o que interessa são os bons projectos e os bons momentos.


2- Iniciou-se no Teatro antes de passar para a televisão. Como foi para si essa passagem a nível de construção de personagens?
Teatro e televisão são dois meios bem distintos. A construção de personagens tem ritmos diferentes e, por isso, quando comecei a trabalhar em televisão - depois de um par de anos a fazer teatro - tive que me adaptar a uma nova forma de trabalhar. Há que esquecer o que se sabe e ter espírito aberto para aprender novos métodos.


3- Trabalhou com Luigi Ottoni em Saragoça. Como foi para si essa colaboração?
Proveitosa. Esses tempos em Saragoça deixaram em mim uma semente que foi germinando e me levaram a apresentar um espectáculo - alguns anos mais tarde - que vivia muito daquilo que aprendi/ vivi por lá. Um espectáculo de comédia física sem palavras chamado "Como Tornar-se Num Fora-da-Lei de Sucesso", que estreou no Teatro da Trindade e que levei um pouco por todo o país.


4- Fale-nos um pouco do seu interesse pela esgrima. De onde surgiu?
A esgrima surge em dois momentos diferentes de trabalho com o mestre Eugénio Roque. Numa primeira oportunidade, fiz um workshop de esgrima artística com ele e, mais tarde, numa coreografia para a peça "Os Maias no Trindade". Não tenho pretenções a ser nenhum mosqueteiro, mas o actor deve, sempre que tem oportunidades para isso, trabalhar para manter a destreza física.


5- Trabalhou em inúmeras séries, com inúmeros actores de topo nacional. Que participações destaca como as de maior importância na sua carreira?
O espectáculo "Trainspotting", estreado na Casa do Artista, marcou-me muito, quer pelo personagem que fiz - "Toti", um dos primeiros de maior composição cómica -, quer pelos momentos vividos. O autor, Irvine Welsh, chegou a estar presente numa das sessões, tendo subido ao palco com uma garrafa de Moe Chandon. O público das primeiras filas que o diga, quando a garrafa rebentou... Em televisão, ainda me lembro com muito carinho da personagem de "Gualdino Júnior" em "Queridas Feras", uma novela muito bem escrita.


6- Como vê o actual estado da cultura em Portugal? Que áreas destaca? O que faria para impulsionar a cultura?
Que dizer? A cultura, neste momento, é feita da "carolice" de uns quantos. Verdadeiros incentivos são poucos e, por isso, não chegam a quem deles, realmente, precisa. Cada vez mais existe um fosso entre o teatro subsidiado e as propostas mais comerciais. Não existe um meio termo. De um lado, as companhias ou projectos com apoios que lhes possibilitam apresentar o que realmente querem - e ainda bem! Do outro, actores que se juntam para tentar apresentar algo que possa captar a atenção do público - nem sempre aquilo que gostariam de fazer - e, assim, rentabilizar um investimento pessoal. Por isso, cada vez mais, os espectáculos "comerciais" - o termo não será o mais adequado... - vão buscar "caras conhecidas" para atrair gente aos teatros. Entre uns e outros, uma quantidade de bons actores não tem onde se encaixar.E prefiro ficar por aqui, porque se começo a falar do cinema...


7- Fale-nos de um momento da sua infância que o tenha marcado substancialmente.
A morte do meu avô. A imagem que tenho é a de entrar na sala de casa e olhar para uma série de gigantes a chorar. Puxava-lhes a roupa, cá em baixo, e perguntava-lhes porque choravam.


8- Fale-nos um pouco dos seus interesses culturais, nomeadamente no cinema, literatura, música, etc.
Lá vou ter que falar de cinema... Estou fascinado com o cinema latino americano. A Argentina e o Brazil - depois dos belos exemplos dados pelo México - estão com um cinema vivo e cheio de força. Espanha, aqui ao lado, tem, realmente, uma dimensão que assusta. Eles sabem viver o seu cinema e os prémios Goya são um exemplo disso. Portugal não tem qualquer verdadeira gala com credibilidade para premiar os seus profissionais do espectáculo. Portanto, sou um apaixonado por cinema, vejo todo o teatro a que consigo deitar a mão e leio um pouco de tudo (sendo que a minha grande paixão é a banda desenhada de autor).


9- Quais são as principais diferenças entre o Pedro que vemos em vários papéis, e o Pedro da vida real?
O Pedro da vida real é bem mais baixo do que parece na televisão. Mas mais magro também... Agora a sério, acho que há algumas diferenças, mas também algumas semelhanças. Todos os personagens levam um pedaço do actor e nós sempre nos tornamos um pouco do personagem - ou aprendemos com ele. Não consigo fazer uma análise muito precisa nesse campo.


10- Que conselho daria a quem pretende seguir uma carreira na área da representaçao?
Antes de mais, frequentar uma boa escola de representação. Algo credível que assegure não só a aquisição das "ferramentas" necessárias para o trabalho de actor, como também a possibilidade de se inserir num grupo de trabalho que, aos poucos, desenvolva projectos nas diversas áreas da representação. De preferência começar-se cedo, para experimentar e errar sem grandes pressões. Ser criativo e ter vontade de partilhar. Ser inteligente e humilde para aprender com os colegas e, bastante importante, nunca ter medo de parecer ridículo.

Friday, June 18, 2010

João Loy




João Loy é actor, encenador e foi a voz do Vegeta na mítica série Dragon Ball. Trabalhou com actores como Nicolau Breyner e Camilo de Oliveira. Está também ligado aos espetáculos de rua e à poesia.
João Loy é uma pessoa bastante ligada às artes do Teatro e da escrita e que tem feito imenso pela nossa cultura. Venha conhece-lo melhor!



1- Qual foi a razão que o levou a ingressar pela representação e encenação? Quando é que descobriu esse talento?
Do que me lembro não houve nada que me levasse à representação. A não ser o facto de em miúdo, tudo o que via no cinema e na televisão ia para a rua às escondidas imitar. Mais tarde no final do 5º ano do liceu houve um professor que quis fazer uma peça de teatro para final de curso e ao pedirem pessoas para participar, claro que me ofereci de imediato, aí sim tive o primeiro momento em que achei que tinha algum talento, pelo menos era o que as pessoas todas diziam. Com talento ou não a verdade é que a partir desse dia nunca mais deixei de representar. A encenação vem muito mais tarde. Eu acho que para encenar ou dirigir actores tens que ter muita prática, conhecer e ser dirigido por muitos encenadores, teres alguma formação...enfim é necessário tempo.


2- É actor e encenador. Qual das duas profissões prefere e porquê? Como vê actualmente a evolução da representação em Portugal e da encenação?
Prefiro as duas. Eu gosto é de estar a trabalhar. Mas ultimamente a encenação está mais activa que a representação. Depois do 25 de Abril houve muita coisa má, justificada pelo experimentalismo, pela vontade de fazer tudo diferente e no meu entender afastámos público das salas de espectáculos. Hoje em dia não, está tudo a voltar ao normal, mas ainda vai levar algum tempo. No entanto como a sociedade também evoluiu muito rápido, com novas tendências, novas linguagens e públicos novos, é necessário um investimento muito maior e demorado. Como em Portugal não se dá a devida importância à cultura, vamos ter de esperar pelo menos mais 10 a 15 anos e aí sim tudo poderá funcionar em harmonia.


3- O seu nome ficou ligado a um dos personagens mais conhecidos de qualquer português que tenha visto televisão nos últimos 20 anos, Vegeta, da enorme série Dragon Ball Z. Como foi para si interpretar um personagem em diferentes fases, acompanhar todo o seu processo evolutivo e acompanhar o enorme sucesso da série? Fale-nos um pouco deste fenómeno, vivido por alguém que trabalhava intimamente nele.
Ainda lhe falam hoje no Vegeta? Gostou de fazer a voz do Vegeta?
Trabalhar a personagem Vegeta foi um grande desafio, sem nos passar pela cabeça no que se viria a tornar. Nós fomos só 6 actores a gravar a série e por isso fomos obrigados a emprestar a nossa voz a várias personagens. Quando o Vegeta aparece na série e me foi pedido para dobrar eu disse ao director de actores: "e agora o que é que eu faço, eu já não tenho mais registos diferentes da minha voz" e a resposta do director foi: "faz com a tua voz normal porque esta personagem deve ser como muitas outras que aparecem só em meia duzia de episódios".
A verdade é que não foram meia duzia, mas sim a série toda.
Ainda hoje os primeiros minutos de um espectáculo meu continuo a ouvir "olhó vegeta", mas adorei trabalhar esta personagem.


4- Entre o Teatro e a Televisão, o que prefere e porquê?
O teatro sem dúvida, mas gosto muito de fazer televisão. No teatro seja qual for o género nós temos a resposta imediata do público. E isso é dos desafios maiores que o actor tem, confrontado de imediato com a opinião e a reacção do público. Em televisão só sabemos meses depois. No entanto o fazer televisão faz com o país inteiro nos conheça e cria a possibilidade de mais trabalho.


5- Fale-nos um pouco dos seus interesses pessoais, nomeadamente na literatura, cinema, música, etc
Ainda hoje sou um grande consumidor dos grandes festivais. Gasto grande parte do meu dinheiro nos concertos ao vivo.
Agora estou a preparar-me para o Super Bock Super Rock.
Leio bastante teatro.
Amo profundamente o "FADO".


6- Como vê o estado actual da cultura em Portugal? O que faria para o impulsionar?
Perdoem-me a expressão, mas cultura num país em que quem nos governa são autenticos ignorantes não pode ser nunca um país culturalmente evoluido.
Eu aprendi muito com um senhor chamado Tony Puig, que para quem não sabe é o grande responsável por Barcelona ser hoje em dia o que é em termos culturais. Mas há uma medida dele que eu gostaria que fosse trabalhada em Portugal. Tal como em Barcelona, no nosso país as pessoas vivem fora dos grandes centros urbanos, e é urgente trabalhar os públicos de fora para dentro porque não podemos continuar a pensar que as pessoas saiem dos empregos, vão para casa e voltam para os grandes centros para verem espectáulos, exposições, ou outra manifestação cultural.


7- Como é produzir um espetáculo de rua? É muito diferente do Teatro feito num espaço fechado?
É um pouco diferente, não na produção mas sim na forma como chegamos ao grande público. Trabalhar num espectáculo de rua tem que ser muito mais visual e menos texto por exemplo.


8- Está também ligado à poesia. Quais são os poetas que mais o inspiram? De onde surgiu o gosto pela poesia?
O gosto pela poesia foi aparecendo ao longo dos anos. Eu lembro-me nos primeiros anos de carreira quando ia ouvir o Mário Viegas num recital eu saía de lá a dizer: "nunca na minha vida direi poesia porque isto é muito dificil e só está para alguns". Mas quantos mais recitais via mais curiosidade tinha de experimentar. Até ao dia que tive de dizer o primeiro poema em palco.
Hoje um dos meus grandes prazeres é estar num palco sozinho, com um monte de poemas e juntamente com o meu técnico, que é quem escolhe a banda sonora. Gosto de imensos poetas, como por exemplo António Botto, José Régio, Al Berto, Cezarini, Sofia, Pessoa... epá são tantos que é melhor parar por aqui.
O gosto pela poesia nasceu quando eu realmente percebi a importância e a força das palavras.