João Loy é actor, encenador e foi a voz do Vegeta na mítica série Dragon Ball. Trabalhou com actores como Nicolau Breyner e Camilo de Oliveira. Está também ligado aos espetáculos de rua e à poesia.
João Loy é uma pessoa bastante ligada às artes do Teatro e da escrita e que tem feito imenso pela nossa cultura. Venha conhece-lo melhor!
1- Qual foi a razão que o levou a ingressar pela representação e encenação? Quando é que descobriu esse talento?
Do que me lembro não houve nada que me levasse à representação. A não ser o facto de em miúdo, tudo o que via no cinema e na televisão ia para a rua às escondidas imitar. Mais tarde no final do 5º ano do liceu houve um professor que quis fazer uma peça de teatro para final de curso e ao pedirem pessoas para participar, claro que me ofereci de imediato, aí sim tive o primeiro momento em que achei que tinha algum talento, pelo menos era o que as pessoas todas diziam. Com talento ou não a verdade é que a partir desse dia nunca mais deixei de representar. A encenação vem muito mais tarde. Eu acho que para encenar ou dirigir actores tens que ter muita prática, conhecer e ser dirigido por muitos encenadores, teres alguma formação...enfim é necessário tempo.
2- É actor e encenador. Qual das duas profissões prefere e porquê? Como vê actualmente a evolução da representação em Portugal e da encenação?
Prefiro as duas. Eu gosto é de estar a trabalhar. Mas ultimamente a encenação está mais activa que a representação. Depois do 25 de Abril houve muita coisa má, justificada pelo experimentalismo, pela vontade de fazer tudo diferente e no meu entender afastámos público das salas de espectáculos. Hoje em dia não, está tudo a voltar ao normal, mas ainda vai levar algum tempo. No entanto como a sociedade também evoluiu muito rápido, com novas tendências, novas linguagens e públicos novos, é necessário um investimento muito maior e demorado. Como em Portugal não se dá a devida importância à cultura, vamos ter de esperar pelo menos mais 10 a 15 anos e aí sim tudo poderá funcionar em harmonia.
3- O seu nome ficou ligado a um dos personagens mais conhecidos de qualquer português que tenha visto televisão nos últimos 20 anos, Vegeta, da enorme série Dragon Ball Z. Como foi para si interpretar um personagem em diferentes fases, acompanhar todo o seu processo evolutivo e acompanhar o enorme sucesso da série? Fale-nos um pouco deste fenómeno, vivido por alguém que trabalhava intimamente nele.
Ainda lhe falam hoje no Vegeta? Gostou de fazer a voz do Vegeta?
Trabalhar a personagem Vegeta foi um grande desafio, sem nos passar pela cabeça no que se viria a tornar. Nós fomos só 6 actores a gravar a série e por isso fomos obrigados a emprestar a nossa voz a várias personagens. Quando o Vegeta aparece na série e me foi pedido para dobrar eu disse ao director de actores: "e agora o que é que eu faço, eu já não tenho mais registos diferentes da minha voz" e a resposta do director foi: "faz com a tua voz normal porque esta personagem deve ser como muitas outras que aparecem só em meia duzia de episódios".
A verdade é que não foram meia duzia, mas sim a série toda.
Ainda hoje os primeiros minutos de um espectáculo meu continuo a ouvir "olhó vegeta", mas adorei trabalhar esta personagem.
4- Entre o Teatro e a Televisão, o que prefere e porquê?
O teatro sem dúvida, mas gosto muito de fazer televisão. No teatro seja qual for o género nós temos a resposta imediata do público. E isso é dos desafios maiores que o actor tem, confrontado de imediato com a opinião e a reacção do público. Em televisão só sabemos meses depois. No entanto o fazer televisão faz com o país inteiro nos conheça e cria a possibilidade de mais trabalho.
5- Fale-nos um pouco dos seus interesses pessoais, nomeadamente na literatura, cinema, música, etc
Ainda hoje sou um grande consumidor dos grandes festivais. Gasto grande parte do meu dinheiro nos concertos ao vivo.
Agora estou a preparar-me para o Super Bock Super Rock.
Leio bastante teatro.
Amo profundamente o "FADO".
6- Como vê o estado actual da cultura em Portugal? O que faria para o impulsionar?
Perdoem-me a expressão, mas cultura num país em que quem nos governa são autenticos ignorantes não pode ser nunca um país culturalmente evoluido.
Eu aprendi muito com um senhor chamado Tony Puig, que para quem não sabe é o grande responsável por Barcelona ser hoje em dia o que é em termos culturais. Mas há uma medida dele que eu gostaria que fosse trabalhada em Portugal. Tal como em Barcelona, no nosso país as pessoas vivem fora dos grandes centros urbanos, e é urgente trabalhar os públicos de fora para dentro porque não podemos continuar a pensar que as pessoas saiem dos empregos, vão para casa e voltam para os grandes centros para verem espectáulos, exposições, ou outra manifestação cultural.
7- Como é produzir um espetáculo de rua? É muito diferente do Teatro feito num espaço fechado?
É um pouco diferente, não na produção mas sim na forma como chegamos ao grande público. Trabalhar num espectáculo de rua tem que ser muito mais visual e menos texto por exemplo.
8- Está também ligado à poesia. Quais são os poetas que mais o inspiram? De onde surgiu o gosto pela poesia?
O gosto pela poesia foi aparecendo ao longo dos anos. Eu lembro-me nos primeiros anos de carreira quando ia ouvir o Mário Viegas num recital eu saía de lá a dizer: "nunca na minha vida direi poesia porque isto é muito dificil e só está para alguns". Mas quantos mais recitais via mais curiosidade tinha de experimentar. Até ao dia que tive de dizer o primeiro poema em palco.
Hoje um dos meus grandes prazeres é estar num palco sozinho, com um monte de poemas e juntamente com o meu técnico, que é quem escolhe a banda sonora. Gosto de imensos poetas, como por exemplo António Botto, José Régio, Al Berto, Cezarini, Sofia, Pessoa... epá são tantos que é melhor parar por aqui.
O gosto pela poesia nasceu quando eu realmente percebi a importância e a força das palavras.
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