Curiosamente através da poesia. Em 1974 vivia-se um período pós-revolução muito participativo e a poesia era uma arma contra o obscurantismo e a ignorância. Através das palavras dos grandes poetas universais, fui construindo uma filosofia de vida que me orientou no sentido das grandes questões humanistas e que teve maior expressão no teatro. O teatro passou a ser uma forma de comunicação por excelência quando, ainda muito jovem, em recitais de poesia me apercebi que era por aí que tinha de caminhar. Um terreno fértil por explorar, que me permitia ser autêntico e dar sentido às ideias que habitavam a minha consciência. Uma paixão que se revelou ao longo da minha vida e se consolidou no meu trabalho como encenador, actor e professor de Expressão Dramática.
2- Quais foram as suas grandes referências no campo profissional? E no campo pessoal?
Honestidade e coerência com os nossos princípios cruzam-se nas referências dos campos profissionais e pessoais. Como não acredito em mitos nem em ídolos, inspiro-me em grandes personalidades que deixaram ao longo da vida marcas indeléveis no génio humano, fazendo-nos sentir que podemos mudar o mundo para melhor. É nesta perspectiva que vejo o teatro.
3- Como vê o estado actual da cultura em Portugal e na sua cidade (Setúbal)?
Vivemos várias crises que são resultado dum grande desalento e desencanto provocado por uma sociedade sedenta de consumo, desumanizada e esvaziada de valores. A cultura alimenta o espírito mas o que se valoriza é o que alimenta o corpo. Cultivamos o belo exterior e esquecemos o interior. Mas é justamente na cultura que nos encontramos, que reforçamos os laços e a auto-estima. Penso que os nossos governantes ainda não interiorizaram esta questão fundamental que se arrasta há mais de 30 anos e que nos leva a reinvidicar os tão desejados 1% do PIB para a cultura. Dessa maneira também as autarquias terão autonomia financeira para implementar, apoiar e dinamizar actividades culturais com equipamentos suficientes à sua realização. Este é, por exemplo, um dos grandes problemas na nossa cidade. A falta de infraestruturas com qualidade suficiente para a realização de iniciativas culturais, que valorizem a cidade e a projectem como capital de distrito.
De modo geral, p
enso que há uma grande evolução em todas as areas culturais graças aos seus agentes e às autarquias que mais têm feito pela cultura no nosso país.
4- Que medidas é que deviam ser tomadas para impulsionar a cultura?
Seria enfadonho estar a referir uma longa lista de medidas urgentes que se perderiam numa simples entrevista como esta. Penso que o leitor estará mais interessado em saber quando e onde é que há teatro, musica, dança, exposições de arte, eventos, etc, na sua localidade. Pessoas como as que produzem blogues deste género têm a grande tarefa de fazer chegar a todos, a notícia de que algo está para acontecer em algum lado. Que os fazedores de cultura estão aí a trabalhar todos dias para que os dias de todos sejam mais felizes. É aí que reside o sentido da vida, na procura da felicidade.
5- Fale-nos um pouco sobre os seus gostos pessoais
Tenho um gosto bastante eclético, mas no cinema gosto da boa ficção científica ou de uma obra de autor, na música as preferências vão para o jazz e no teatro, além dos dramaturgos universais, gosto bastante dos autores do chamado Teatro de Absurdo.
- O teatro tem tido o apoio necessário? E em Setúbal, como é a actual situação do TAS?
Como na cultura em geral os apoios são insuficientes. Mas o TAS tem resistido pela persistencia dos seus elementos e a compreensão da autarquia que ao longo da sua existência tem apoiado e acarinhado.
7- Que conselho daria a quem pretende seguir teatro em Portugal?
Que o faça com paixão.
"Através das palavras dos grandes poetas universais, fui construindo uma filosofia de vida que me orientou no sentido das grandes questões humanistas"
ReplyDeleteGostei imenso. Parabéns aos autores do blog e ao Duarte Victor pela excelente entrevista que nos deixa. Pela partilha de uma paixão que se mantém viva há mais de trinta anos. Contra ventos e marés o teatro está vivo e os poetas também.
um beijo
iv