1- Nasceu em Moçambique, mas desde muito cedo que vive em Portugal. Como foi a sua infância em África? Como foi para si a mudança, tanto de local como de estilo de vida?
Qual a ligação que ainda mantém com Moçambique?
Crescer em África, até aos 8 anos, foi ter podido desenvolver liberdade e amplitude no olhar. O povo africano é o mais maternal do planeta. Tive bons colos, sol, mar, gotas de chuva grossa, árvores para subir, amêijoa vendida à porta de casa, um sorriso de ombro a ombro. Mudar custou. Era grande a mudança. Descobri muito cedo que tinha de lutar por mim. Saí-me bem. Mantenho o sorriso em tudo o que faço. Agradeço a vida. Ligo-me a Moçambique de diversos modos. E sei que isto ainda vai dar frutos.
2- Apesar de se ter formado em Design, foi jornalista para o jornal Expresso, fez rádio, foi editora do programa Moda 21, foi entrevistadora para o canal Sic Mulher, entre outras coisas. De todas as suas experiências profissionais, qual a que verdadeiramente a apaixonou mais?
Todas. Mesmo. Não digo que sim a tudo para que me convidam, mas quando digo é porque sinto confiança e entrego-me. Quando tenho êxito, sei que foi pelo que suei. Quando erro, é na proporção da entrega. Gosto de trabalhar em domínios diferentes como desenhar as fardas da Galp ou fazer um programa diário sobre afectos durante 3 anos como fiz com Júlio Machado Vaz, ou escrever a biografia de um grande músico como o Rui Veloso. E variando aprendo.
3- Na sua formação nota-se a vontade em querer estar ligada ao Design, seja na escrita ou na televisão. De onde surgiu o seu gosto pelo Design e pela moda?
De uma mãe jurista e de um pai empresário saíram 3 filhos criativos. Vem tudo de uma avó chamada Alexandrina, neta de judeus polacos fugidos da I Guerra que inspirou os netos. Ela escrevia. Foi das primeiras mulheres sindicalizadas como jornalistas no Porto. Deixou livros de poesia e prémios ganhos. Era multifacetada e de uma elegância que tocava forte.
4- É o rosto da Fashion TV em Portugal, um dos projectos audiovisuais mais ambiciosos no mundo da moda. Como vê este projecto, a nível de realização pessoal e profissional?
É, obviamente, um orgulho ser o rosto nacional de um canal com a projecção internacional do FashionTV. E eu e o director do canal temos planos para alargar os conteúdos da emissão portuguesa.
5- A revista LAMag é um projecto que segue as tendências da moda, arte, decoração, etc. Como tem sido a evolução da revista, tanto no mercado de venda, como na sua elaboração?
É um projecto que a tem satisfeito?
A LAmag é como um filho. E ter um filho é bom, fazê-lo crescer é ainda melhor. A Lanidor é a marca portuguesa de têxtil com melhor implantação no mercado nacional e internacional. Tem à frente dos comandos um homem visionário chamado João Pedro Xavier. Tudo o que esteja ao meu alcance fazer para ajudar a posicionar a marca no topo, farei com prazer. A revista tem sofrido as mais diversas fases, exactamente por não estar no mercado dentro dos cânones habituais. Tem sido uma luta ganha por todos nós: a Lanidor e a pequena mas muito eficaz equipa que a produz. Sinto que conquistámos leitoras(es) ao logo destes quatro anos e meio e que ainda há um longo caminho a percorrer.
6- Em 2007 foi editada a biografia de Rui Veloso, escrita por si. Fale-nos um pouco deste seu projecto literário. Como surgiu o convite para escrever esta biografia?
O Rui procurou alguém para escrever e achou-me disponível. Foi um ano e tal a entrevistar meio mundo ligado à música. Pelo Rui passou toda a história recente da música portuguesa. É um homem grande extremamente talentoso. Trabalhei com prazer, diverti-me e fiz um amigo para a vida.
7- Como foi para si receber em 1998 o prémio de melhor jornalista de moda?
Foi um orgulho e mais uma vez a certeza de que a entrega ao que fazemos, mais cedo ou mais tarde, acaba recompensada. Durante anos escrevi sobre moda, no Expresso, com um enorme sentido da responsabilidade. A moda era até então domínio de futilidade nas redacções dos jornais. Sei que iniciei a mudança para uma nova consciência sobre a força cultural e financeira da moda que começa agora, ao fim de 15 anos, a mostrar bons efeitos.
8- Como é que avalia a actual situação da cultura em Portugal? O que faria para a impulsionar?
Faria cursos para ensinar os pescadores (leia-se artistas) a usarem melhor as suas canas. Em Portugal os protagonistas das artes esperam que lhes dêem “peixe” para cozinhar as suas obras. É necessário que aprendam a desenvolver redes sociais e a promoverem-se para conquistar investidores ou mecenas por si mesmos. O Ministério da Cultura deveria agir mais como ponte diplomática entre os artistas e o poder financeiro.
9- Que áreas culturais destaca em Portugal?
Talvez a literatura. Temos uma língua vasta, óptimo ninho para a escrita. Agradam-me os escritores portugueses – bem como os brasileiros e - os universos que exploram.
E também gosto muito da nossa música. Sinto que não a promovemos tão bem como a escrita, o que é pena.
10- Fale-nos um pouco dos seus gostos pessoais. O que gosta na área do cinema, música, etc?
Uiii João Miguel Fernandes, esta sua pergunta dava outra entrevista! Conto-lhe apenas que sou uma elitista ecléctica: gosto das mais diversas manifestações artísticas, desde que sejam de topo na sua área.
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