Katia Guerreiro é um dos grandes nomes do fado da actualidade. Através da sua encantadora e sentimental voz, a artista carrega e transmite o peso da cultura portuguesa além fronteiras. Com a sua música, Katia Guerreiro dá a conhecer o verdadeiro Portugal, aquele que possuí uma história vastíssima, repleta de vitórias e conquistas. O Fado está mais bonito, a cultura portuguesa também. O Cultura Activa fez várias perguntas à artista que está a fazer o mundo apaixonar-se por Portugal.
1- Nasceu na África do Sul e cresceu nos Açores. Qual é a sua actual ligação com cada um desses sítios?
Com a África do Sul tenho pouca ligação para além da ligação afectiva, pelo facto de lá ter nascido. Com os Açores mantenho uma estreita relação, já que esse é o meu refúgio para recuperar energias.
2- Apesar de ter seguido a carreira musical, tirou um curso exigente (medicina).
Como concilia as duas profissões? Qual delas lhe dá verdadeiramente mais prazer?
Concilio-as com bastante esforço físico, naturalmente. Neste momento estou mais calma na medicina, apesar de não ter parado totalmente de exercer a actividade.
Ambas me dão muito prazer e tenho grande dificuldade em responder a esta questão, pois cada uma ocupa lugar distinto na minha vida. Certo é que inicei as duas carreiras ao mesmo tempo, portanto lido com isto de forma muito natural.
3- De onde nasceu o seu gosto pela música e medicina?
Pela música, ainda muito nova nos Açores quando comecei a tocar Viola da Terra (instrumento típico da região). A partir daí percebi que tinha uma intuição musical, mas o canto aconteceu um pouco mais tarde, mas sem que eu alguma vez ambicionasse iniciar algum caminho na área.
Pela medicina foi quando aos 16 ou 17 anos de idade decidi enveredar pelo curso, para poder usar a minha vontade de ajudar os outros através da ciência. É uma paixão que me absorve.
4- Como conheceu o grande fadista João Braga e como nasceu essa relação de "padrinho - afilhada"?
O João Braga ligou-me exactamente no dia em que me formei em medicina para me convidar para participar no concerto que assinalava o 1º aniversário sobre a morte de Amália, por ter ouvido falar muito bem de mim e da minha voz. Fui a um ensaio em sua casa e no dia 6 de Outubro de 2000 pisei o palco do Coliseu, sendo este o momento de mudança total da minha vida.
5- Qual é a sua visão sobre o actual estado do Fado em Portugal? E no estrangeiro? Como é que os estrangeiros recebem o Fado?
O Fado em Portugal começa a ganhar mais força. Mas isto só acontece depois do estrangeiro mostrar um entusiasmo algo misterioso sobre esta música que envolve as mais profundas emoções e os mais íntimos sentimentos. Lá fora, públicos dos mais diversos países choram nos concertos e depois de se apaixonarem chegam a aprender a nossa língua para entenderem na íntegra o que esta música transmite. É muito curioso. Hoje o fado é um veículo muito importante da nossa cultura, da nossa língua e o melhor cartão de visita para sermos visitados. Por cá ainda não se aperceberam disto. E basta visitar casas de fado para nos capacitarmos disto. É a primeira coisa que os turistas querem fazer quando chegam a Lisboa.
6- Fale-nos um pouco das colaborações que teve com vários artistas como Ney Matogrosso, Rui Veloso e Dulce Pontes.
Têm acontecido de forma muito natural e são parcerias com muito sentido. Todos os artistas com que me tenho cruzado e cantado têm uma forma de estar nesta arte muito semelhante à minha.
7- De todos os países por onde já passou, qual é o que destaca como o que a recebeu melhor e principalmente à sua música?
Apesar de nunca ter sentido nenhum público hostil, desde o Brasil à nova Caledónia, ao Japão, Tunísia, Turquia,…, na verdade o meu público mais fiel é o público francês. Tenho assistido a gente a fazer 800 km para vir a concertos em diversos sítios de França.
8- Fale-nos um pouco do que gosta de ler, ouvir, etc. Preferencialmente português.
Acabo agora de ler “Nem só quem nos odeia” de Maria Rosa Colaço, estou a reler “Em nome da Terra” de Virgílio Ferreira, tenho ouvido muito Ricardo Ribeiro, um grande fadista desta nova era. Televisão vejo pouco.
9- Fale-nos de uma memória que tenha da sua infância.
Falo-vos das memórias de um mar único que me inspirou durante a infância e adolescência. O mar dos Açores com que acordava todos os dias e que trazia a certeza de um futuro virado para o mundo. Junto com esse mar, os amigos e os lugares que me ajudaram a crescer e que são ainda hoje âncora de emoções.
10- Como vê o actual estado da cultura portuguesa? O que alteraria?
A cultura está dependente do estado do nosso Estado. Mudaria essencialmente a quantidade e qualidade de ferramentas atribuídas ao Ministério da Cultura e ao Instituto Camões que tantas vezes deixa de apoiar por falta de meios.
11- Que áreas destaca na cultura portuguesa?
As artes plásticas estão em grande ascensão, novos artistas já com enorme destaque internacional como Joana Vasconcelos, Adriana Molder. Na música mais uma vez destaco o Fado de que me orgulho tanto de fazer parte. O cinema está em alta, e os nossos realizadores e actores começam a ofertar-nos com produções de alta qualidade.
12- O que é que o futuro próximo lhe reserva a nível profissional?
Concertos em sítios novos para mim como Israel, África do Sul, Pólo Norte, uma tournée com a Orquestra da Normandia a começar já em Maio, uma tournée na Noruega em Novembro, e concertos um pouco por Portugal, que terminarão com 2 concertos em Lisboa, no cinema São Jorge.
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