Cultura Activa

Entrevistas a várias personalidades ligadas à cultura

Sunday, April 25, 2010

Tiago Rebelo

Tiago Rebelo é um dos escritores do momento em Portugal. O seu livro "O Homem que sonhava ser Hitler" tem lhe valido vários elogios da crítica. Ao longo de vários anos Tiago Rebelo conciliou a sua profissão de jornalista ( está há 16 anos ligado à TVI) com a de escritor. Ao Cultura Activa explica-nos como é possível conciliar essas duas profissões e mostra-nos um pouco mais além do homem com uma carreira repleta de sucessos.




1- Nos últimos nove anos publicou quinze livros. Como é que concilia a sua profissão de jornalista com a de escritor? Qual delas lhe dá realmente mais satisfação?

Tenho as duas profissões, cada uma com o seu espaço. Como a de jornalista tem horários, a de escritor adapta-se, mas normalmente escrevo de noite. Quando se gosta arranja-se sempre tempo. Não prefiro verdadeiramente uma delas, gosto das duas.


2- A sua ligação à Rádio Renascença durou oito longos anos. Como foi para si participar nesse projecto?

Foi muito bom. A rádio dá muita experiência de comunicação, especialmente para quem vai trabalhar a seguir na televisão. Eu comecei na rádio e foi através dela que fiz algumas das reportagens de momentos históricos mundiais, como a Guerra do Golfo.


3- Está ligado à TVI há já dezasseis anos. Como tem sido a sua evolução como jornalista nessa estação televisiva? Tendo em conta o seu início de carreira e o momento actual.

São, de facto, muitos anos a trabalhar em televisão (também estive três anos na RTP) e representam uma evolução com a experiência acumulada, até porque a própria televisão também teve uma enorme evolução durante estes anos.


4- O seu novo livro, " O Homem que sonhava ser Hitler", fala de democracia e situações extremas. Do seu ponto de vista, como é que vê a actual democracia praticada em Portugal?

É uma democracia bastante pobre, com políticos de pouca qualidade e, muitos deles, com uma ética muito duvidosa. O meu livro reflecte esta avaliação do momento presente. Mas a situação também é reflexo de uma sociedade pouco exigente e pouco interventiva, que se limita a deixar o seu destino nas mãos desses políticos.



5- Como tem sido para si a vida de jornalismo? A nível pessoal, de experiências e vivências, e a nível profissional. Foi algo que sempre quis fazer?

Foi algo que eu sempre quis fazer e, embora seja uma profissão que também tem a sua rotina e as suas frustrações, dá-nos oportunidade de participar em acontecimentos como nenhuma outra.


6- É um escritor bastante versátil, escrevendo desde livros para crianças a questões sociais e humanas. Onde vai buscar a inspiração para chegar a tantos pontos opostos? Quais as suas influências?

Um escritor escreve sobre aquilo que conhece, caso contrário não teria nada para escrever. Aquilo que eu escrevo aborda os assuntos que, a cada momento, me entusiasmam. Quanto às histórias propriamente ditas, são fruto de um trabalho diário. Enquanto escrevo vou descobrindo o caminho e o desfecho dessas mesmas histórias.


7- Quais são os seus gostos culturais? Nomeadamente no cinema, música, literatura, etc?

De literatura, leio um pouco de tudo, de uma forma um pouco errante. Gosto de ler bocados de livros, às vezes só para ver como escrevem os outros autores. Também gosto de ler livros sem parar quando fico preso a eles. A música que mais ouço é a que dá na rádio, Mega FM, Comercial. Gosto particularmente de cinema e isso aliás, reflecte-se na minha forma de escrever, bastante visual.



8- Como vê o actual estado da cultura em Portugal? Que medidas tomaria para impulsionar a cultura?

Acho que a cultura em Portugal é pobre. O actual Primeiro-Ministro, no final do seu primeiro governo, admitiu que tinha deixado a cultura para trás, o que é lamentável, tanto mais porque tomou esse exemplo de auto-crítica dando a impressão de que era, para ele, o menos mau para mostrar uma certa humildade. Eu entendo que a cultura não deve ser subsídio-dependente, mas penso que deve ser protegida. As figuras da cultura estão sempre entre os principais embaixadores de todos os povos e uma sociedade que não tem uma cultura forte é uma sociedade atrasada e pobre. O cinema em Portugal não tem expressão, a música portuguesa quase não passa nas rádios, não existem verdadeiras indústrias destas artes. Não temos museus de referência e a literatura ainda é a que vai estando melhor, embora seja muito difícil um autor subsistir da escrita.


9- Que áreas culturais destaca em Portugal?

A literatura e a pintura vão tendo alguma projecção, mas muito pouca.



10- Se pudesse escolher uma pessoa para governar o país quem seria?

Não escolheria ninguém em particular. Infelizmente, os partidos não nos dão escolhas de grande qualidade e quando votamos devemos fazê-lo tendo em conta factores como os projectos políticos e os seus representantes. Não se pode esperar que um Primeiro-Ministro sozinho seja a solução de todos os problemas. Precisamos de muitos políticos de qualidade, tanto no governo como na oposição. E precisamos de uma sociedade que não pense que o país pode ficar entregue a meia-dúzia de políticos e que depois se queixe na mesa do café. Precisamos de uma sociedade que, quando acusa alguns políticos de serem vigaristas, depois não vá votar neles, argumentando que são vigaristas competentes.


11- Que conselho daria a quem pretende iniciar uma carreira de jornalismo?

É uma profissão muito exigente e só deve ir para ela quem se sentir mesmo com vocação. Hoje em dia é muito difícil entrar na profissão porque há pouca oferta de trabalho. Também por isso, não se ganha muito. Mas, a persistência é uma das maiores virtudes.



No comments:

Post a Comment