Cultura Activa

Entrevistas a várias personalidades ligadas à cultura

Friday, April 30, 2010

José Manuel Simões


José Manuel Simões é jornalista, percorreu meio mundo, é coordenador dos estudos de comunicação e media da universidade de São José, em Macau, escreveu várias biografias de músicos famosos, entre eles David Byrne e Júlio Iglésias, e teve o prazer de privar e travar amizade com Sting, Iggy Pop, ou Celine Dion.
Actualmente publica as suas crónicas sobre vários artistas que entrevistou, na revista "Vidas" do Correio da Manhã.
José Manuel Simões é um homem apaixonado pelo mundo, pelo que faz e pela cultura. Ao Cultura Activa, o jornalista partilha connosco histórias pessoais, vivências passadas e opiniões criticas.

1- É formado em Comunicação e Jornalismo. De onde surgiu esse seu interesse pela área da comunicação? Foi algo que sempre quis fazer?
Em 1988, então com 25 anos, tive um sonho. Decidi conhecer todos os Estados do Brasil, as capitais de todos os Estados e alguns lugares que o Mundo ainda hoje não conhece. Três anos mais tarde esse sonho estava realizado, regressando a Portugal com um valioso acervo fotográfico, um ensaio para um livro, milhares de quilómetros percorridos, uma barba copiosa, um raro espírito de aventura, os alicerces para uma tese de doutoramento sobre uma tribo indígena que irei defender no próximo mês. Estavam criadas as condições básicas para me tornar num bom jornalista: fotografava, escrevia, filmava, comunicava com igual apetência por várias vias e canais. Fui parar à Escola Superior de Jornalismo do Porto onde, terminado o curso com uma média de 18 valores, fui convidado, numa altura em que já era jornalista da secção de cultura e espectáculos do Jornal de Notícias, a leccionar. Era o ponto de partida para uma apaixonante carreira com passagem pelo primeiro mestrado em Comunicação e Jornalismo da tradicional Faculdade de Letras da Universidade da minha Coimbra natal.


2- É jornalista, professor e tutor. Qual destas "profissões" realmente o apaixona mais?
Sou, por natureza, um apaixonado por tudo – ou quase tudo - o que faço.


3- Ao longo de décadas entrevistou várias pessoas ligadas à música. Há alguma delas que consiga destacar como tendo sido uma influência para si?
Estou muito grato ao destino que me permitiu entrevistar, conhecer, conviver, tornar-me amigo de artistas do calibre de Sting, Iggy Pop, Skin, Celine Dion, Ney Matogrosso, Fafá de Belém, Caetano Veloso, Miguel Angelo, Paulo Gonzo, Olavo Bilac entre mais algumas centenas de pessoas que me marcaram. Ao escrever as biografias de Cesária Évora, Júlio Iglésias,Delfins e David Byrne criei laços que perdurarão até à eternidade. Devo o nome da minha filha, Heaven, e do meu filho, David, ao David Byrne. O Miguel Angelo, dos Delfins, é um dos meus melhores amigos e o padrinho do meu David Ari, agora com quatro anos.


4- Escreveu biografias de músicos e conjuntos muito diferentes. De onde vem este seu gosto pela música, nomeadamente por entrevistar músicos? Pode partilhar connosco alguma história mais marcante sobre algum músico que tenha escrito a biografia?
Entrei nos camarins do Coliseu do Porto, a Cesária Évora, na primeira vez em que estava em Portugal, mandou-me sentar e, sem me fitar, diz, com rudeza: “pergunte”. Só a consegui conquistar depois de lhe pedir para partilhar comigo a segunda garrafa de aguardente. O Julio Iglésias não me perdoou o facto de eu ter tornado público coisas que apenas os íntimos conheciam e não autorizou a biografia que dele escrevi e que, mesmo que não autorizada, decidi publicar. Quanto à música, é amor incondicional e permanente.


5- Fale-nos de um momento da sua infância/juventude que o tenha marcado de tal forma, que tenha alterado algo em si, na sua forma de agir ou pensar.
Aos quatro anos, ajoelhado à beira da cama da minha mãe, dei-lhe a mão e disse: “mamã, não morras que eu preciso muito de ti”. E ela não morreu.


6- Fale-nos um pouco dos seus gostos culturais, nomeadamente no cinema, música, literatura, etc
Sou versátil e eclético, abrangente e flexível. Os meus gostos reflectem isso mesmo. Neste preciso momento estou a ouvir Pink Floyd, “Wish You Were Here”, o primeiro disco que comprei, e a ler “The Celestine Prophecy” de James Redfield. Como vê sou uma pessoa com a espiritualidade à flor da pele.


7- Entrevistou vários estrangeiros ao longo da sua carreira como jornalista. De todas as suas experiências estrangeiras qual é a que destaca?
Fui convidado para estar presente numa festa de lançamento de um disco, “Butterfly”, da Mariah Carey, na discoteca “Chez Paris”, em Londres. Às tantas ela chega, senta-se numa cama estrategicamente colocada no meio da pista onde recebe os amigos mais íntimos. De repente, decido: ela conhece tanta gente que vai lá lembrar-se que nunca me viu mais gordo. Aproximei-me, “Mariah, hello darling”, e entre flashes de fotografias, dei-lhe um copioso beijo.


8- É actualmente coordenador dos estudos de comunicação e media da universidade de São José, em Macau. Como tem sido para si essa experiência? Refira algumas das principais diferenças entre Portugal e Macau, nomeadamente na área cultural e baseado na sua experiência pessoal.
Um dia destes, o meu amigo Miguel Ângelo veio a Macau dar um dos últimos concertos dos Delfins e às tantas dizia-me: “Macau é interessante mas eu não conseguiria viver aqui pois falta-lhe cultura pop”. É um facto que não invalida que goste de morar aqui. Aprecio o dinamismo deste espaço algo claustrofóbico mais virado para o futuro. Comparo Portugal a um velhinho simpático, caduco e de bengala na mão e Macau a um menino traquina cheio de vida e esperança no futuro.


9- É cronista para a revista Vidas, do Correio da Manhã. Como tem sido para si esse projecto?
A minha crónica “Histórias de Bastidores” nasceu com a publicação do suplemento “Êxito” do Correio da Manhã e espero que dure muitos e muitos anos. Entre algumas fofoquices e inconfidências acho que encontrei uma forma de dar a conhecer os artistas para além do que o público deles conhece.


10- Que áreas ligadas à cultura destaca em Portugal? Estamos a dar a devida importância à nossa cultura?
Para além dos concertos de música e dos festivais de Verão Portugal não valoriza a cultura. Aliás, no calão jornalístico não se diz cultura mas coltura. Seja lá o que isso for parece-me sintomático.


11- Como vê a actual situação da cultura em Portugal? O que faria para a impulsionar?
Portugal é como o fado. Triste, melancólico, fatalista. Mas bonito. E falido. A cultura é que paga as favas da arrogância, incapacidade, e falta de dinamismo dos nossos políticos. Como não existe alternativa capaz de alterar o estado melancólico da cultura e da nação só nos resta a esperança nas futuras gerações.





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