Humorista, guionista e actor, Carlos Moura é um homem de várias funções. Faz assíduamente Stand Up Comedy e é director de conteúdos, nomeadamente do programa 5 para a meia noite.
Ao Cultura Activa, Carlos Moura mostrou-nos um pouco do homem por trás do comediante, sem esquecer também essa parte.
1- Sempre nos habituou ao seu humor tão natural. Suponho que seja preciso alguma inspiração. De onde surge essa inspiração e como cresceu em si o gosto pela comédia?
Fazer rir é fazer um pequeno milagre. O riso provoca alterações físicas nas pessoas - do ritmo cardíaco à adrenalina e muito mais. Como sempre gostei de comunicar, sempre me fascinei com a comédia, fosse com os filmes de Chaplin ou um qualquer anúnico palerma... Acho que desde miúdo sempre fui um palhacito... Quanto à inspiração, é simples: basta olhar à volta.
2- Além de comediante é também guionista e actor. Qual destas profissões é que mais o apaixona e porquê?
Cada uma delas tem as suas particularidades e sensibilidades, mas é em palco, com um microfone e a fazer comédia que me sinto em casa.
3- Qual é concretamente a sua relaçao com o programa "5 para a meia noite"? Esperava um sucesso tão grande por parte do programa?
Sou director de conteúdos, ou seja, decido previamente e também durante o directo o que deve acontecer no ecrã. Claro que isto é um processo global - não sou um ditador - e envolve a minha equipa de conteúdos, os apresentadores, a produção e a própria RTP. Eu acho que o sucesso do programa se deve a dois factores: primeiro, uma equipa genial que se esforça por fazer um programa diário sempre surpreendente e divertido, despretencioso... Outro, são os apresentadores, que se entregam de alma e coração a um projecto de baixo orçamento como este... e acreditem: só se faz com muito esforço e pessoas que se dedicam 12 a 14 horas por dia!
4- Fale-nos um pouco de um dos momentos mais marcantes da sua vida.
Houve vários, mas se tivesse que escolher, apostava no 1º Festival de Stand Up, em que participei e onde fiz também a minha primeira actuação. À minha frente, na plateia, estava Raúl Solnado, com quem tive a oportunidade de jantar a seguir, e que, sem querer, acabou por ser o meu padrinho da comédia... Foi, decididamente, uma noite que mudou a minha vida. Entrei no Festival para conhecer gente que gostasse de comédia e saí de lá a caminho da comédia profissional.
5- Fale-nos um pouco dos seus interesses culturais no geral.
Neste momento ando,infelizmente, a ouvir pouca coisa. As rádios nacionais aborrecem-me e não tenho iPod, por preguiça. Mas sempre que posso, adoro andar em pesquisa de coisas novas. Descobri agora, por exemplo, uma banda alemã de covers que são estupidamente geniais, os The Baseballs. Paralelemente, tenho alguns álbuns que já rodaram mil vezes, como o "Köln Concert" de Keith Jarret. Gosto de muita coisa, e variada. Acabei também de ler um dos melhores livros dos últimos tempos, "A Estrada". E gosto de espreitar livros de divulgação científica, como os de Carl Sagan e Richard Dawkins.Nos tempos livros, no entanto, aposto bastante em cinema. Sou um fã da sétima arte e adoro um bom filme. Gostei do "Avatar" mas ando louco para ver o "The Messenger"...
6- Do seu ponto de vista, que medidas é que deveriam ser tomadas para que a cultura se pudesse desenvolver em Portugal?
Abrir espaço aos novos talentos, deixarmos de lado as peneiras e apostar a sério na educação. Não se admite que existam salas de teatro remodeladas e pagas pela União Europeia que estão fechadas e que, para acolherem um espectáculo, cobrem alugueres diários de dois mil euros ou mais. Da mesma forma que não se admite que se fabriquem tantas estrelas e tão poucos artistas. E da mesma forma que não se entende que haja alunos do ensino superior que não sabem escrever português - isto revela que temos um sistema educativo de caca, e sem educação não há cultura. Precisamos que a malta nova saiba quem foi Bocage, Eça, Pessoa, e por aí fora. Estamos a tentar fazer telhados sem construir alicerces...
7- Como vê o estado actual da cultura em Portugal? Que áreas destaca?
Acho que temos muito que trabalhar... Anda aí muito boa gente e talentosa que merece um oportunidade para mostrar trabalho. De resto, estamos a ultrapassar aquela fase palerma da "cultura intelectual", em que queríamos ser um povo de burgueses. Temos que perceber que entretenimento ligeiro também é cultura, que precisamos conquistar plateias e público.
8- Se pudesse escolher, quem nomearia para governar portugal?
Decididamente, Belmiro de Azevedo. Nesta altura do campeonato, só um gestor a sério pode salvar a coisa. E ele tem provas dadas, quer se goste, quer não.
9- Que conselhos daria a quem quer fazer comédia ou entrar para a televisão? Como foi o seu percurso?
Que pensem bem. Grande parte das pessoas pensa na televisão e no mundo do espectáculo como um mundo de magia. O que é verdade, mas isso é para quem assiste. Os bastidores da realidade são de trabalho árduo e muita, muita irregularidade. É uma das áreas profissionais com maior instabilidade e com maiores exigências pessoais. Esqueçam a ideia de ter um horário de saída e um salário certinho, além de, a recibos verdes, esquecerem subsídios de férias e 13os... Ganha-se como em qualquer outra profissão mas é um trabalho de adrenalina.. e é isso que cativa. A comédia, ainda mais irregular, é desporto de alta competição, e exige trabalho todos os dias, a todas as horas... Se é isto que querem, avancem. Mas lembrem-se que os contos de fadas só acontecem com Tim Burton!
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