Hugo Alexandre Cavalheiro d'Alte tirou o curso de Design de Comunicação na E.S.A.D. em Matosinhos. Já passou pela Holanda (Haia) e Espanha ( Barcelona). Actualmente encontra-se na Finlândia, em Helsínquia. É designer gráfico e tipógrafo freelancer na Finlândia. Ao Cultura Activa, Hugo d'Alte conta-nos uma história de vida, cheia de experiência e diversas visões culturais.
1- O Hugo sempre esteve muito ligado às artes. Estudou em vários países e desenvolveu sempre esse gosto. A que se deve esse seu interesse artístico?
Penso que se deve em grande parte ao ambiente em que cresci e às pessoas com quem convivi enquanto crescia.
Houve muita gente que me influenciou directa ou indirectamente a seguir este caminho, mas também acabei por
descobrir eventualmente que me dá bastante satisfação fazer este trabalho.
2- Tendo em conta que já viveu várias etapas no estrangeiro, como qualifica o processo de mudar de país por razões profissionais?
Eu fui primeiro estudar para fora e acabei por ficar. Não foi uma coisa pensada antes de partir. Também tive razões pessoais não regressar após os estudos.
A minha mulher é finlandesa, penso que é mais fácil para mim trabalhar aqui do que para ela encontrar trabalho em Portugal. É difícil trabalhar fora. Os nativos do país têm sempre vantagens linguísticas de integração em relação aos estrangeiros, mas pode ser uma experiência muito enriquecedora.
3- Além do design e da tipografia, que outras áreas culturais é que mais gosta?
Interessam-me todos os processos criativos, e encontro muitas vezes inspiração noutras
áreas criativas, fotografia, filme, musica, arquitectura, e mesmo em coisas ou temas que
não têm nada em comum com o design. Eu gosto de imagens, inspiram-me as imagens.
4- Como qualifica a actual cultura portuguesa?
É uma pergunta difícil porque estou fora de Portugal há quase 10 anos e imagino que tenha uma visão distorcida do que se passa em Portugal. Contudo, penso que há muitas coisas interessantes a acontecer. Se calhar a distribuição de eventos culturais deveria ser menos centralizada, fazia sentido.
5- De uma possível analogia cultural entre Portugal e Finlândia, o que destaca como sendo mais similar ou mais diferente?
O mais parecido talvez seja o problema de identidade e complexo de inferioridade. A Finlândia pertenceu à Suécia durante 700 anos, e a Russia sempre foi uma ameaça. Com Portugal penso que se passa o mesmo em relação a Espanha. O mais diferente... há diversas coisas que poderia mencionar, mas uma diferença que me parece relevante referir é a cultura de trabalho, os finlandeses são mais eficientes, mais metódicos.
Claro que faz diferença haver um sistema por trás que funciona também de uma maneira muito mais eficiente e facilita a vida as pessoas.
Os portugueses são também dos que mais tempo demoram a pagar a nível europeu, e isso chateia-me, é má política, eu as vezes espero meses para que clientes portugueses me paguem, e é preciso insistir bastante, isso é impensável na Finlândia por exemplo.
6- Acha que Portugal dá destaque suficiente aos artistas que se encontram a viver fora do nosso país?
Penso é bastante comum ignorar quem vive fora do país, até já me disseram que por viver há tantos anos fora que já nem era português...
Mas Portugal é uma país de emigrantes, a personalidade dos portugueses foi sendo moldada por 500 anos de emigração.
7- Como qualifica a evolução do design nos últimos anos em Portugal? E no mundo?
Penso que o design em Portugal tem evoluído bastante. Há muitas referências nacionais que vão sendo destacadas
na comunidade de designers internacional. Há nomes que vão sendo conhecidos, embora muitas vezes não haja consciência de que são portugueses. A produção criativa nacional acompanha o que se passa a nível internacional. Penso que a percepção da utilidade do design em termos práticos (para os compradores dos serviços do designer) está a evoluir no bom sentido.
8-Em Portugal, o que é que destaca na música, cinema, pintura, etc? Costuma consumir o produto Português?
Há muito talento em Portugal, mas Portugal não se sabe vender no estrangeiro, nem tendo Espanha como vizinha, ou se calhar por isso, porque ficamos na sombra dos espanhóis. Eu vou ouvindo musica portuguesa, sobretudo quando tenho saudades. Cinema e outras artes são mais difíceis de ter acesso fora de Portugal.
9-Que conselho/os dá a quem pretende iniciar a sua vida no estrangeiro, seja a nível escolar ou profissional?
Penso que é importante não esquecer as raízes e as diferenças culturais. A contribuição de uma pessoa, com um percurso diferente, é apreciada e pode ser uma vantagem num meio muito competitivo como é o design. Claro que também é importante prestar atenção às diferenças culturais, a aprender a lidar com isso. Não é fácil ser estrangeiro sobretudo durante muitos anos, acabamos por nos sentirmos estrangeiros no país de origem e de acolhimento...
No comments:
Post a Comment