Carlos Nobre é mais conhecido por Pacman. Além de ser vocalista dos Da Weasel, o músico escreve também para a revista de domingo do Correio da Manhã e tem um projecto musical paralelo, denominado "O Algodão Não Engana". Nesta entrevista ao blogue Cultura Activa, Carlos Nobre fala, além de outras coisas, das suas influências musicais, gostos pessoais e um pouco da sua infância.
1- Nasceu em Angola, mas desde cedo que vive em Almada. Como é a sua relação com o seu país de origem e a cidade onde viveu quase toda a sua vida?
Não se pode dizer que tenha uma relação com Angola - nasci lá mas vim para Portugal muito cedo, com meses, apenas. Já Cabo Verde, a terra dos meus pais, onde de resto fui concebido, toca-me maneira diferente. Já visitei várias ilhas mas ainda me falta conhecer muito - adoro as pessoas, adoro lá estar e acredito que aquela terra terá muito para me dar e quem sabe, vice-versa. Almada é a cidade onde me fiz homem, a cidade de sempre, que amo e às vezes também odeio.
2- Como foi a sua infância? De que forma é que essa época o influenciou musicalmente?
A minha infância foi passada com um grupo de amigos ligeiramente mais velhos que eu, sempre atrás do meu irmão, brincadeiras de rua. Foi porreira. Influência directa na música não a consigo descortinar. Ajudou a moldar o meu carácter e por aí influenciou praticamente tudo aquilo que faço na vida adulta.
3- Descreva um pouco do seu percurso musical inicial.
Comecei a tocar cedo, por volta dos 13 anos, baixo, mais uma vez atrás do meu irmão que tocava guitarra, na altura. Tive uma série de bandas de garagem onde toquei uma série de sonoridades diferentes. A nossa "escola" começou no metal, passou pelo hardcore, rock pesado e alternativo, funk... A meio da década de 90 o hip-hop instalou-se como influência muito importante.
4- De todos os seus projectos musicais, qual foi o que lhe deu mais prazer? Excluindo os Da Weasel.
Sem ser os Da Weasel nunca fiz nada com grande expressão, que valha a pena destacar. Mas orgulho-me imenso das colaborações que fiz nos últimos anos: com o projecto "Foge, Foge, Bandido" do Manel Cruz, com os Xutos & Pontapés no último disco, mais atrás com os Mão Morta, uma das bandas da minha adolescência....
5- Fale-nos um pouco do seu livro "Um outro amor". Porque decidiu escrever um livro?
Não é que tenha decidido escrever um livro. Foi-me proposto seleccionar crónicas do material que tenho vindo a escrever para o Correio da Manhã e achei que seria um exercício porreiro, dando uma recolha interessante.
6- Qual foi a razão que o levou a iniciar o projecto " O Algodão Não Engana"?
O projecto "O Algodão Não Engana" surgiu como todos os outros - as coisas aparecem por que têm que sair, têm necessidade disso e arranjam forma de o fazer, não dá para explicar muito melhor... acontece assim como com qualquer outro escape criativo. Tinha uma série de textos parados cujo formato não era - à partida - o ideal para serem musicados. Por isso mesmo decidi fazê-lo.
7- Fale-nos um pouco dos seus gostos pessoais a nivel musical, literário ou no cinema. O que anda a ouvir?
Não sei... Ouço muito coisa diferente, há dias e fases. Tenho alguns artistas favoritos que vou ouvindo sempre. Tenho ouvido muito os The Dead Weather - vi um concerto deles em Londres muito bom, os Them Crooked Vultures parecem-me um projecto bastante interessante. No exacto momento em que respondo a esta entrevista estou a ouvir o "White Album" dos The Beatles. O livro que leio por estes tempos é "A Montanha Mágica", de Thomas Mann.
8- Se pudesse escolher uma pessoa para governar o país quem seria?
As pessoas certas deixariam de o ser a partir do momento que assumissem funções... É uma visão algo desencantada mas não vale a pena idealizar muito sob a pena de nos desiludirmos a sério. Ainda assim, escolheria alguém ligado à cultura - à partida a sensibilidade é diferente.
9- Os Da Weasel são uma das bandas com maior sucesso em Portugal. Como vê esse mesmo sucesso? O que reserva o futuro conhecido aos Da Weasel?
É algo a que nunca nos habituamos. É bom, claro. O futuro? Não sei. Nunca esperei que crescêssemos tanto... Espero que continuemos a fazê-lo!
10- Além da música e da escrita gostaria de ter tido outra profissão?
Não há nada que prefira à escrita e à música. Sinceramente sou feliz a fazer o que faço porque é o que gosto de fazer: umas vezes melhor, outras pior.
11- Qual é a sua opinião sobre o estado actual da cultura em Portugal?
Ui... Qual Cultura?
12- Que áreas culturais é que destaca em Portugal?
Acho que se têm feito coisas muito interessantes na "Street Art" - muito para lá do graffitti têm surgido formas frescas e apelativas, com uma linguagem muito forte. Como fã de cinema que sou, confesso a minha tristeza com a falta de propostas que rasguem com o marasmo pseudo-intelectual da nossa praça.
13- Que conselho daria a quem pretende iniciar um projecto musical ou tentar fazer vida da música?
Se tiver a certeza que é isso que quer fazer... bola para a frente! Não é um caminho fácil mas não há nada que supere fazermos aquilo que gostamos - o dinheiro muito menos, certamente.
No comments:
Post a Comment